As leis do condomínio impunham ao projeto da Casa Du Plessis cobertura em águas com telhas de barro. Essas restrições possibilitaram um novo caminho para as obras do mk27: reinterpretar as tradições da arquitetura colonial e vernacular brasileira dentro de uma linguagem contemporânea.

Se por um lado a Casa Du Plessis explora materiais e soluções tradicionais como o pátio interno e os muxarabis de madeira nos painéis deslizantes dos quartos, por outro, sinaliza uma aproximação do escritório com o léxico miesiano da pureza formal.

Essa relação entre modernidade e tradição é traduzida literalmente na forma arquitetônica. Exteriormente, a casa é um volume prismático em pedra canjiquinha laminada. Ao adentrar nessa casca, nesse pedaço de território delimitado por muros, descobre-se uma casa com ares próximos da arquitetura colonial construída nessa região de Paraty.

O pátio de 90m2, com 4 jabuticabeiras e um piso de seixo rolado organiza a relação dos quartos com a sala e funciona como hall de entrada para a casa. De lá, a paisagem é emoldurada por uma abertura de proporções precisas no muro.

A união entre o know-how histórico-colonial e o raciocínio moderno se tornou um das questões arquitetônicas recorrentes nas obras posteriores do studio mk27, tanto no desenho da planta quanto no uso de materiais.

Gabriel Kogan

27 de outubro de 2003

7 horas da manhã. Estamos decidindo se viajamos para fotografar a casa Du Plessis, a 400 km de São Paulo e 15 km da cidade histórica de Paraty, Rio de Janeiro. Está chovendo ininterruptamente.

Vamos arriscar. 4 horas mais tarde, e já estamos chegando. Não tinha visto a casa totalmente terminada. Me emociono. Por fora uma grande caixa de pedra-mineira (uma típica pedra brasileira), toda voltada para um pátio interno com 4 jabuticabeiras, que curiosamente não é só a minha árvore predileta, como também sua fruta é a minha favorita. O piso da casa é de cimento com pequenos seixos rolados. Acho que ficou bom. A pele de muxarabi em madeira natural, que filtra a luz dos quartos, ficou muito bem-feita. O fotógrafo gosta do fato da casa ser moderna por fora, e tradicional vista através de seu pátio. Eu explico que pelo regulamento do condomínio as casas têm que ter obrigatoriamente telhas de barro em sua cobertura, e esta foi a forma de interpretarmos esta regra, ou melhor, de a burlarmos, à nossa maneira. O clima está mais para a Islândia do que para uma praia tropical, mas de qualquer forma começamos a fotografar. De noite fomos a Paraty. A cidade é simplesmente maravilhosa.

Ficamos hospedados numa pousada que até macacos tinha em seu jardim tropical. De noite eu sonho com a aparição de um anjo. Nunca tinha tido um sonho religioso. Talvez tenha alguma ligação com a austera decoração do quarto que parecia o de um convento. De manhã voltamos para a casa e conseguimos um pouquinho de sol. Estamos de volta. A chegada em São Paulo é chocante. A cidade é simplesmente pavorosa. Sinal da Cruz.

Marcio Kogan

CASA DU PLESSIS

local > paraty . rj . brasil
projeto > outubro . 2001
conclusão > novembro . 2003
terreno > 990 m2
área construída > 405 m2
-
arquitetura e interiores> studio mk27
autor > marcio kogan
co-autoras > cassia cavani . diana radomysler
interiores > diana radomysler
equipe de projeto > oswaldo pessano . samanta cafardo
-
construtora > dp unique
engenharia estrutural > gramont engenharia
paisagismo > marcelo faisal
-
fotógrafo > arnaldo pappalardo

As leis do condomínio impunham ao projeto da Casa Du Plessis cobertura em águas com telhas de barro. Essas restrições possibilitaram um novo caminho para as obras do mk27: reinterpretar as tradições da arquitetura colonial e vernacular brasileira dentro de uma linguagem contemporânea.

Se por um lado a Casa Du Plessis explora materiais e soluções tradicionais como o pátio interno e os muxarabis de madeira nos painéis deslizantes dos quartos, por outro, sinaliza uma aproximação do escritório com o léxico miesiano da pureza formal.

Essa relação entre modernidade e tradição é traduzida literalmente na forma arquitetônica. Exteriormente, a casa é um volume prismático em pedra canjiquinha laminada. Ao adentrar nessa casca, nesse pedaço de território delimitado por muros, descobre-se uma casa com ares próximos da arquitetura colonial construída nessa região de Paraty.

O pátio de 90m2, com 4 jabuticabeiras e um piso de seixo rolado organiza a relação dos quartos com a sala e funciona como hall de entrada para a casa. De lá, a paisagem é emoldurada por uma abertura de proporções precisas no muro.

A união entre o know-how histórico-colonial e o raciocínio moderno se tornou um das questões arquitetônicas recorrentes nas obras posteriores do studio mk27, tanto no desenho da planta quanto no uso de materiais.

Gabriel Kogan

27 de outubro de 2003

7 horas da manhã. Estamos decidindo se viajamos para fotografar a casa Du Plessis, a 400 km de São Paulo e 15 km da cidade histórica de Paraty, Rio de Janeiro. Está chovendo ininterruptamente.

Vamos arriscar. 4 horas mais tarde, e já estamos chegando. Não tinha visto a casa totalmente terminada. Me emociono. Por fora uma grande caixa de pedra-mineira (uma típica pedra brasileira), toda voltada para um pátio interno com 4 jabuticabeiras, que curiosamente não é só a minha árvore predileta, como também sua fruta é a minha favorita. O piso da casa é de cimento com pequenos seixos rolados. Acho que ficou bom. A pele de muxarabi em madeira natural, que filtra a luz dos quartos, ficou muito bem-feita. O fotógrafo gosta do fato da casa ser moderna por fora, e tradicional vista através de seu pátio. Eu explico que pelo regulamento do condomínio as casas têm que ter obrigatoriamente telhas de barro em sua cobertura, e esta foi a forma de interpretarmos esta regra, ou melhor, de a burlarmos, à nossa maneira. O clima está mais para a Islândia do que para uma praia tropical, mas de qualquer forma começamos a fotografar. De noite fomos a Paraty. A cidade é simplesmente maravilhosa.

Ficamos hospedados numa pousada que até macacos tinha em seu jardim tropical. De noite eu sonho com a aparição de um anjo. Nunca tinha tido um sonho religioso. Talvez tenha alguma ligação com a austera decoração do quarto que parecia o de um convento. De manhã voltamos para a casa e conseguimos um pouquinho de sol. Estamos de volta. A chegada em São Paulo é chocante. A cidade é simplesmente pavorosa. Sinal da Cruz.

Marcio Kogan