Manhã de um dia qualquer de março de 2032, -50ºC.

Chegou o primeiro grupo de turistas por aqui. É um momento histórico.

Um jornalista e um operador de câmera da CNN também fazem parte. A CNN deve ter pago uma fortuna para cobrir esta expedição. Vão se hospedar no Nomad Lunar Hotel, NLH V1. O hotel é composto de oito cápsulas de Kevlar inflável para até 10 hóspedes. É movido por dois motores propulsores híbridos, e toda a energia será gerada por células regenerativas (RLC) conectadas a células fotovoltaicas e um minigerador nuclear à base de hélio-3.

A ideia de um hotel que se movimenta pela superfície lunar é um grande atrativo para os visitantes.

O empresário Mark Branson, de 62 anos, e a linda modelo Rebecca Johnson, 30 anos, são o único casal visitante. O tenente Chalabi, arquiteto da AEB (Agência Espacial Brasileira), explica para eles todos os pormenores da missão. Rebecca já está bem entediada e parece que preferiria estar fazendo compras em algum mall do planeta Terra. Todos os outros estão excitados. George Roth, o famoso escritor americano, é o único convidado. No total são nove pessoas, duas delas do Japão (que não param por um segundo de fotografar, já com a nova edição da Sony Moon 7), um industrial canadense, um chinês, que não tenho a mínima ideia de quem seja, e os outros cinco americanos, dois da CNN, Mark, Rebecca e George.

Estamos na borda da cratera Shackleton, polo Sul da Lua, na base da European Space Agency, ESA, desenhada pelos arquitetos da Foster+Partners. Cúpulas infláveis foram cobertas com um escudo de blocos de concreto lunar, feitos por uma impressora 3D, protegendo-as contra radiações e meteoritos. Esta é uma das regiões mais iluminadas da Lua com uma temperatura razoavelmente estável. Os turistas vão descansar por algumas horas e almoçar na Base. À tarde, uma caminhada na área para se divertirem com o efeito da gravidade. O peso do corpo é equivalente a 1/6.

Amanhã de manhã o NLH V1, junto com o Mobile Lunar Lab, MLB V 2.0, veículo similar ao NLH e que agrega laboratório e cápsulas de alojamento para técnicos e cientistas, vão fazer uma primeira expedição em volta da cratera e conhecer o sistema de captação de água. Vão testar todos os procedimentos e funcionamentos, desta vez com os veículos em sua capacidade máxima.

Retornam à noite e, dois dias depois, os dois veículos vão sair em direção a Malapert, a 110 km de distância, percurso que deve ser feito em mais de 10 horas. Malapert é um dos conhecidos “picos da luz eterna”, onde alguns cientistas e técnicos estão montando a “Lunar Power Company”, usina de captação de energia solar, antena de comunicação e um radiotelescópio. No caminho visitarão uma mina de titânio, outra de silício, um conjunto de “Lava-Tubes”, local da próxima colônia, completamente subterrânea e um complexo de processamento de hélio-3, o mais precioso combustível de fusão nuclear, raro na Terra e abundante na Lua, talvez a sua maior riqueza.

O preço do elemento é cento e vinte vezes o valor do ouro e ele poderia fornecer energia para toda a Terra por muitos e muitos anos.

22:00 hs, na cápsula 7, George Roth observa a Terra pela escotilha ao som de “Ne me quitte pas”. Está vidrado nesta imagem há mais de uma hora. Na cápsula 2, o casal tenta fazer sexo. Estranho. Os outros dormem. Foi um dia excitante e exaustivo.

Existe sempre uma tensão com a possibilidade de algum meteorito ou até um micrometeorito atingir qualquer coisa. Parece uma bala perdida de uma favela do Rio de Janeiro. A falta da atmosfera torna tudo superexposto. Certamente, um dia teremos uma tragédia.

Depois de cinco dias incríveis e históricos, esses pioneiros do turismo lunar voltam para suas rotinas na Terra. Todos olham pela janela da nave a Lua se afastar. Rebecca só pensa na nova bolsa que viu na Marni. George quer voltar em dois anos, talvez com uma mulher mais jovem.

Os japoneses estão ansiosos para mostrar as milhares de fotos aos seus amigos em Tóquio. Silêncio…

Forte silêncio!

Marcio Kogan

CASA NÔMADE

PROJETO REALIZADO PARA CONCURSO
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local > lua . universo
projeto > julho . 2015
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arquitetura > studio mk27
autor > marcio kogan
co-autor > eduardo chalabi
equipe de comunicação > carlos costa . mariana simas

Manhã de um dia qualquer de março de 2032, -50ºC.

Chegou o primeiro grupo de turistas por aqui. É um momento histórico.

Um jornalista e um operador de câmera da CNN também fazem parte. A CNN deve ter pago uma fortuna para cobrir esta expedição. Vão se hospedar no Nomad Lunar Hotel, NLH V1. O hotel é composto de oito cápsulas de Kevlar inflável para até 10 hóspedes. É movido por dois motores propulsores híbridos, e toda a energia será gerada por células regenerativas (RLC) conectadas a células fotovoltaicas e um minigerador nuclear à base de hélio-3.

A ideia de um hotel que se movimenta pela superfície lunar é um grande atrativo para os visitantes.

O empresário Mark Branson, de 62 anos, e a linda modelo Rebecca Johnson, 30 anos, são o único casal visitante. O tenente Chalabi, arquiteto da AEB (Agência Espacial Brasileira), explica para eles todos os pormenores da missão. Rebecca já está bem entediada e parece que preferiria estar fazendo compras em algum mall do planeta Terra. Todos os outros estão excitados. George Roth, o famoso escritor americano, é o único convidado. No total são nove pessoas, duas delas do Japão (que não param por um segundo de fotografar, já com a nova edição da Sony Moon 7), um industrial canadense, um chinês, que não tenho a mínima ideia de quem seja, e os outros cinco americanos, dois da CNN, Mark, Rebecca e George.

Estamos na borda da cratera Shackleton, polo Sul da Lua, na base da European Space Agency, ESA, desenhada pelos arquitetos da Foster+Partners. Cúpulas infláveis foram cobertas com um escudo de blocos de concreto lunar, feitos por uma impressora 3D, protegendo-as contra radiações e meteoritos. Esta é uma das regiões mais iluminadas da Lua com uma temperatura razoavelmente estável. Os turistas vão descansar por algumas horas e almoçar na Base. À tarde, uma caminhada na área para se divertirem com o efeito da gravidade. O peso do corpo é equivalente a 1/6.

Amanhã de manhã o NLH V1, junto com o Mobile Lunar Lab, MLB V 2.0, veículo similar ao NLH e que agrega laboratório e cápsulas de alojamento para técnicos e cientistas, vão fazer uma primeira expedição em volta da cratera e conhecer o sistema de captação de água. Vão testar todos os procedimentos e funcionamentos, desta vez com os veículos em sua capacidade máxima.

Retornam à noite e, dois dias depois, os dois veículos vão sair em direção a Malapert, a 110 km de distância, percurso que deve ser feito em mais de 10 horas. Malapert é um dos conhecidos “picos da luz eterna”, onde alguns cientistas e técnicos estão montando a “Lunar Power Company”, usina de captação de energia solar, antena de comunicação e um radiotelescópio. No caminho visitarão uma mina de titânio, outra de silício, um conjunto de “Lava-Tubes”, local da próxima colônia, completamente subterrânea e um complexo de processamento de hélio-3, o mais precioso combustível de fusão nuclear, raro na Terra e abundante na Lua, talvez a sua maior riqueza.

O preço do elemento é cento e vinte vezes o valor do ouro e ele poderia fornecer energia para toda a Terra por muitos e muitos anos.

22:00 hs, na cápsula 7, George Roth observa a Terra pela escotilha ao som de “Ne me quitte pas”. Está vidrado nesta imagem há mais de uma hora. Na cápsula 2, o casal tenta fazer sexo. Estranho. Os outros dormem. Foi um dia excitante e exaustivo.

Existe sempre uma tensão com a possibilidade de algum meteorito ou até um micrometeorito atingir qualquer coisa. Parece uma bala perdida de uma favela do Rio de Janeiro. A falta da atmosfera torna tudo superexposto. Certamente, um dia teremos uma tragédia.

Depois de cinco dias incríveis e históricos, esses pioneiros do turismo lunar voltam para suas rotinas na Terra. Todos olham pela janela da nave a Lua se afastar. Rebecca só pensa na nova bolsa que viu na Marni. George quer voltar em dois anos, talvez com uma mulher mais jovem.

Os japoneses estão ansiosos para mostrar as milhares de fotos aos seus amigos em Tóquio. Silêncio…

Forte silêncio!

Marcio Kogan