A construção civil urbana popular brasileira, com a consolidação de bairros precários, executados com materiais descartáveis, se especializou na edificação dos chamados “puxadinhos”; pequenas ampliações que tomam todos os espaços vazios dos lotes urbanos.

A cidade formal incorporou essa cultura e sugeriu – nas sempre recentes cidades latino-americanas – um programa para a arquitetura: construir no construído.

A Loja Micasa Volume B é um anexo, um “puxadinho” de uma loja já existente. A planta interna do anexo é um grande vão, pensado como um espaço amplo e dinâmico para abrigar, sobretudo, o showroom da VITRA, que a Micasa é revendedora. Esse novo espaço conecta-se através de um pequeno túnel com a loja existente.

O edifício foi construído usando materiais e execuções rústicas. A obra do Volume B lembra os processos artesanais da construção civil popular, mas também, sobretudo, as construções modernas brasileiras brutalistas, que, atento ao saber fazer local, reinventou sob o Equador, o próprio Brutalismo.

As fachadas da Micasa VolB foram construídas em concreto armado aparente e o processo construtivo utilizou procedimentos pouco usuais: a forma, geralmente feita com um trabalho preciso de madeiras novas, foi aqui construída com madeiras dispostas aleatoriamente, caoticamente. Alguns pedaços da forma não foram retirados nem mesmo depois da inauguração da obra.

As demais soluções construtivas seguiram a mesma lógica e muitas delas foram definidas no próprio canteiro de obras, deixando espaço criativo para os operários, o projeto foi complementado e recriado em sua construção. Os brises dos escritórios são telas metálicas utilizadas como armação para o concreto aramado. Essas delicadas rendas de aço, colocadas na vertical, funcionam como filtros para a luz nos grandes vidros. O pedrisco externo é feito de britas usadas para a produção do concreto.

A memória da construção permaneceu, numa arqueologia exposta do edifício: os “X’s” de fita nos vidros novos e, nas paredes internas, anotações de obra. Essas paredes não têm revestimento, não têm pintura: uma textura crua do material manteve-se como acabamento.

O edifício finalizado, a partir do uso desses materiais, transparece delicadamente etapas construtivas. O edifício é um raio-X do projeto e do canteiro e as marcas da recente história da construção que vão se somando a muitas outras ao longo do tempo.

Studio MK27

PAVILHÃO MICASA VOL.B

local > são paulo . sp . brasil
projeto > novembro . 2006
conclusão > maio . 2007
terreno > 504 m²
área construída > 250 m²
-
arquitetura > studio mk27
autor > marcio kogan
co-autor > bruno gomes
equipe de projeto > bruno guedes . oswaldo pessano
-
construtora > pentágono engenharia
fotógrafos > nelson kon e fran parente

A construção civil urbana popular brasileira, com a consolidação de bairros precários, executados com materiais descartáveis, se especializou na edificação dos chamados “puxadinhos”; pequenas ampliações que tomam todos os espaços vazios dos lotes urbanos.

A cidade formal incorporou essa cultura e sugeriu – nas sempre recentes cidades latino-americanas – um programa para a arquitetura: construir no construído.

A Loja Micasa Volume B é um anexo, um “puxadinho” de uma loja já existente. A planta interna do anexo é um grande vão, pensado como um espaço amplo e dinâmico para abrigar, sobretudo, o showroom da VITRA, que a Micasa é revendedora. Esse novo espaço conecta-se através de um pequeno túnel com a loja existente.

O edifício foi construído usando materiais e execuções rústicas. A obra do Volume B lembra os processos artesanais da construção civil popular, mas também, sobretudo, as construções modernas brasileiras brutalistas, que, atento ao saber fazer local, reinventou sob o Equador, o próprio Brutalismo.

As fachadas da Micasa VolB foram construídas em concreto armado aparente e o processo construtivo utilizou procedimentos pouco usuais: a forma, geralmente feita com um trabalho preciso de madeiras novas, foi aqui construída com madeiras dispostas aleatoriamente, caoticamente. Alguns pedaços da forma não foram retirados nem mesmo depois da inauguração da obra.

As demais soluções construtivas seguiram a mesma lógica e muitas delas foram definidas no próprio canteiro de obras, deixando espaço criativo para os operários, o projeto foi complementado e recriado em sua construção. Os brises dos escritórios são telas metálicas utilizadas como armação para o concreto aramado. Essas delicadas rendas de aço, colocadas na vertical, funcionam como filtros para a luz nos grandes vidros. O pedrisco externo é feito de britas usadas para a produção do concreto.

A memória da construção permaneceu, numa arqueologia exposta do edifício: os “X’s” de fita nos vidros novos e, nas paredes internas, anotações de obra. Essas paredes não têm revestimento, não têm pintura: uma textura crua do material manteve-se como acabamento.

O edifício finalizado, a partir do uso desses materiais, transparece delicadamente etapas construtivas. O edifício é um raio-X do projeto e do canteiro e as marcas da recente história da construção que vão se somando a muitas outras ao longo do tempo.

Studio MK27